quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

E agora, Bocage!

Cantata à morte de Inês de Castro

(...)

«Toldam-se os ares,
Murcham-se as flores;
Morrei, Amores,
Que Inês morreu.

«Mísero esposo,
Desata o pranto,
Que o teu encanto

Já não é teu.

«Sua alma pura
Nos Céus se encerra;
Triste da Terra,
Porque a perdeu.

«Contra a cruenta
Raiva íerina,
Face divina
Não lhe valeu.

«Tem roto o seio
Tesoiro oculto,

Bárbaro insulto
Se lhe atreveu.

«De dor e espanto
No carro de oiro
O Númen loiro
Desfaleceu.

«Aves sinistras
Aqui piaram
Lobos uivaram,
O chão tremeu.

«Toldam-se os ares,
Murcham-se as flores:

Morrei, Amores,
Que Inês morreu.»

in http://www.triplov.com/poesia/bocage/Ines-de-Castro/index.htm

Manuel Maria Barbosa Du Bocage, também conhecido como Elmano Sadino.
Elmano é uma inversão do nome Manoel (EL/MANO/EL) e Sadino vem de Sado, rio que banha Setúbal, cidade em que o poeta nasceu a 15 de Setembro de 1765.
Morreu em 1805, em Lisboa, onde ganhou a fama de poeta. Consta que quando falava rimava, metia-se em sarilhos e chegou a ser preso por ser “desordenado nos costumes”.
Era um frequentador assíduo do café Nicola, um café famoso da Baixa de Lisboa.

«Sou o poeta Bocage, venho do Nicola e vou para o outro mundo se disparas a pistola.»

12 comentários:

  1. A vossa pesquisa avança a um bom ritmo.
    Vou dar-vos uma sugestão de um poema pouco conhecido de uma poetisa de Alcobaça: Virgínia Vitorino.
    Bom trabalho!

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  2. Meninos! Os que não estão a redigir o texto para a peça... respondam ao desafio!

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  3. Fui nova, mas fui triste; só eu sei
    como passou por mim a mocidade!
    Cantar era o dever da minha edade...
    Devia ter cantado, e não cantei!

    Fui bella. Fui amada. E desprezei...
    Não quiz beber o phyltro da anciedade.
    Amar era o destino, a claridade...
    Devia ter amado, e não amei!

    Ai de mim! Nem saudades, nem desejos;
    nem cinzas mortas, nem calor de beijos...
    - Eu nada soube, nada quiz prender!

    E o que me resta? Uma amargura infinda:
    ver que é, para morrer, tão cedo ainda,
    e que é tão tarde já para viver!

    Gonçalo

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  4. Estás perto, Gonçalo... mas ainda te falta pesquisar mais um bocadinho!

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  5. A manhã era clara, refulgente.
    Uma manhã dourada. Tu passate.
    Abriu mais uma flor em cada haste.
    Teve mais brilho o sol, fez-se mais quente.

    E eu inundei-me dessa luz ardente.
    Depois não sei mais nada. Olhei... Olhaste...
    E nunca mais te vi... - Raro contraste ! -
    A madrugada transformou-se em poente.

    Luz que nasceu e apenas cintulou!
    Deixou-me triste assim que se apagou,
    às vezes fecho os olhos; vejo-a ainda...

    E há tanto sol dourando esses trigais!
    Olhaste, olhei, fugiste... Ai nunca mais,
    nunca mais tive outra manhã tão linda!

    E agora esta melhor???

    Gonçalo

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  6. Gonçalo! Esse é lindo, mas vou deixar a Stora Ilda responder-te!
    Já que estás tão empenhado (lindo menino!!!) podias fazer uma pequena pesquisa sobre esta poetisa para Segunda-feira. O relógio está sempre a contar...
    Bom trabalho!

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  7. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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  8. Eu vim predestinada a este mundo!
    O que sinto pairar no meu destino
    tem, por ser entusiástico e profundo,
    a calorosa vibração dum hino!

    Não me detenho em mim. Não me defino.
    -- Olho o mar, sem medir quanto ele é fundo...
    Se vejo a chama dum clarão divino,
    do divino clarão toda me inundo!

    Vida! Quero viver! Que o sofrimento
    seja fumo arrastado pelo vento
    e que eu realize a glória que senti!


    Pela estrada do Orgulho iam meus passos...
    E ao fim de tudo, -- vês? -- pendem-me os braços,
    canso, e pergunto a Deus: -- Porque nasci?


    Ana Teresa

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  9. Andamos às voltas... não vale andar a repetir!

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  10. Não venhas ver-me, não! De que servia?

    Nem eu tenho coragem para tanto.

    Gostava muito, sim, mas todo o encanto

    da tua grande ausência acabaria.



    É tornar-te a perder. Num certo dia,

    tu partes novamente, e todo o pranto,

    ou pouco ou muito - não importa quanto -

    nunca o compensa uma hora de alegria.



    Mas se eu não posso ter outro desejo!

    Se eu, não te vendo a ti, nada mais vejo!

    Como é que, sendo assim, não te hei-de ver?



    Responde-te a minha alma comovida:

    - Vale mais ter um mal por toda a vida

    do que alcançar um bem para o perder.

    Bruna

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  11. Repousaram enfim. Sonham agora
    aquele grande sonho interrompido.
    - O maior sonho que se tem vivido
    sonho que fulge em cada nova aurora! -

    Beijam-se os dois amantes hora a hora.
    E no grande socego apetecido.
    murmuram ambos eles num gemido:
    «Só é perfeito, imenso, o amor que chora!»

    Inês, oh! linda Inês! «garça real»
    que por um bem sofreste tanto mal!
    Dorme, dorme o teu sono tão profundo.

    O teu Pedro te embala, nesse Amor
    que há-de ter sempre o nome de Maior!
    Que há-de ser novo - «Até ao fim do mundo...-»

    David

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